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aventures17/09/2025

Oraclia desperta para o seu destino

Nas terras remotas e esquecidas, onde os mapas se calam e os viajantes se perdem, estendiam-se os Pântanos Amaldiçoados. Essas extensões, cobertas por névoas eternas, pareciam vivas. As árvores de troncos retorcidos estendiam suas raízes como dedos ávidos, e sussurros invisíveis circulavam no ar pesado, como se as próprias sombras conspirassem. Ninguém ousava aventurar-se ali, pois dizia-se que cada passo naquela terra ecoava nos ouvidos de entidades antigas e hostis, guardiãs de segredos sombrios demais para os humanos.

Nas profundezas desses pântanos, escondida atrás de uma muralha de espinhos e feitiços, encontrava-se a caverna de uma entidade maléfica. Seu verdadeiro nome era desconhecido, apenas os vestígios de sua obra: almas perdidas, sonhos devorados e um frio que parecia absorver toda a esperança. Em seu domínio, a luz não penetrava. Os lagos refletiam céus inexistentes, e cada reflexo parecia prometer um desespero sem fim.

Foi nesse lugar amaldiçoado que uma pequena fada, frágil e luminosa, estava aprisionada. Suas asas, outrora cintilantes, estavam opacas, pesadas por correntes de sombra. Ela quase não se lembrava mais da liberdade: há anos a entidade a mantinha cativa, pois sabia o valor desse prisioneiro. A fada possuía um poder raro: nascera das esferas angélicas, uma centelha de pureza capaz de tocar a alma dos sonhadores e iluminar seus sonhos. Mas esse dom, preso na prisão dos pântanos, estava pouco a pouco se apagando.

Um dia, porém, o destino abriu uma fissura na eternidade. Um velho mago, solitário e discreto, fez uma pausa nos limites dos Pântanos Amaldiçoados. Era conhecido como o Guardião dos Segredos dos Sonhos. Viajante dos mundos visíveis e invisíveis, passara sua vida decifrando as linguagens do sono e recolhendo fragmentos do inconsciente. Seus olhos, turvos pela idade, viam além da realidade. Guiado por sinais misteriosos, pressentiu que um grande desequilíbrio nascia nessas terras e que uma centelha de esperança estava ali aprisionada.

Armado com seu cajado gravado com runas, ele adentrou os pântanos. As sombras o assaltaram, as ilusões o enganaram, mas cada passo era sustentado pela força tranquila de um espírito experiente. À noite, traçava círculos de proteção; de dia, desenhava na lama glifos luminosos para repelir a escuridão. Finalmente, após um caminho repleto de visões enganosas, descobriu a caverna da entidade.

O confronto foi terrível. Os ventos uivavam, as águas ferviam, e as sombras tomavam forma para dilacerar o espaço. O mago, apesar da idade, fez brotar uma luz do fundo de sua alma. Cada uma de suas invocações soava como um trovão, e cada clarão de energia dissipava uma parte das trevas. A fada, em sua prisão, sentia seu coração bater mais forte, como se uma promessa de libertação se aproximasse.

Por fim, em um esforço supremo, o mago quebrou as correntes de sombra. A entidade soltou um grito silencioso, recolhendo-se em suas trevas, ferida mas não destruída. A fada estava livre. Contudo, a vitória foi amarga. O mago, atingido no coração por uma sombra traiçoeira, caiu ao chão. Suas forças o abandonavam; sabia que seu corpo mortal não sobreviveria.

Então, chamou a fada para junto dele. Suas mãos tremiam, mas em seus olhos brilhava a serenidade de quem cumpriu o dever. Entregou à pequena criatura um objeto de beleza estranha: uma chave forjada em um metal desconhecido, iridescente como um sonho em nascimento.

— Ouça-me, pequena fada — disse ele, com a voz trêmula como uma chama vacilante. — Esta chave é a obra da minha vida: a Chave dos Sonhos. Ela abre o que está fechado, revela o que está escondido. A entidade a aprisionou porque conhece o seu destino. Há séculos priva os homens de seu poder mais precioso: compreender seus sonhos. Ela os separa de suas almas, os faz vagar longe de sua verdadeira natureza. Mas você… você é a alma mais pura do reino angélico. Cabe a você restaurar este mundo ferido.

O mago tossiu, suas palavras tornando-se lentas, mas cada uma pesava como uma profecia.

— Percorra o mundo. Encontre cada sonhador, cada espírito aflito. Decifre seus sonhos, revele seus medos, suas esperanças, suas mensagens secretas. Pois os sonhos são lanternas que guiam a alma, e sem eles, o homem se perde. Para essa missão, você carregará um nome: Oraclia. Lembre-se, cada sonho que você tocar reacende uma luz apagada.

E quando seus dedos soltaram a chave, o sopro do mago se extinguiu. O silêncio dos pântanos tornou-se profundo, quase reverente.

A pequena fada, agora Oraclia, sentiu suas asas recuperarem o brilho. Em seus olhos brilhavam, ao mesmo tempo, a dor e a determinação. Ela alçou voo na noite, levando consigo a missão sagrada: devolver aos homens o acesso aos seus sonhos, abrir as portas do mundo onírico e reacender, uma a uma, as luzes adormecidas da humanidade.

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